Estou completamente indignada com as últimas notícias que tenho lido sobre a banalização da prática de Coaching no Brasil.
Tenho mais de 30 anos de carreira, sou psicóloga de formação e coach por paixão e não posso aceitar o que tem acontecido, por isso decidi me manifestar, conscientizando e alertando!!! Escolhi o Coaching e fui estudar, isso já faz 18 anos. Estudei muito! Fiz quatro cursos de formação e sigo estudando e me atualizando sempre, afinal a arte e ciência do Coaching é muito ‘jovem ‘ – estamos falando de uma metodologia que nasceu nos anos 1970.
E o que é Coaching de fato?
Coaching é um processo de desenvolvimento humano que lida com o pensar, o sentir e o agir, e tem como essência o apoio ao cliente (coachee) na construção de uma consciência mais profunda sobre si mesmo, para que ele possa se apropriar e se responsabilizar pelas próprias escolhas e comportamentos, e sobre o que passa a seu redor. Um processo de Coaching só acontece quando o individuo revela verdadeiro desejo de mudança comportamental e um coach, devidamente capacitado, se propõem a apoiá-lo com o objetivo de potencializar seus resultados na vida. Através do Coaching o cliente reconhecerá a importância de proceder de forma diferente para que possa construir o futuro desejado.
Sim, Coaching está diretamente relacionado com pessoas, com o desenvolvimento humano. Trata-se de um método bastante eficaz para que o individuo possa fazer mudanças que tornem sua jornada mais fácil e rápida até conquistar seus “pódios de vida” (espaço humano de cada individuo onde realização e prazer coexistem).
O Coaching é democrático, aceita profissionais que se identificam com o desenvolvimento de pessoas, independente de suas origens acadêmicas. Contudo essa identificação, por mais genuína que seja, não habilita ninguém a se auto intitular coach sem o preparo adequado.
São as formações (específicas em coaching) sérias e de qualidade que sustentarão a prática ética do Coaching. Durante a formação os profissionais aprendem o que é e o que não é Coaching e ganham clareza para orientar seus futuros clientes sobre o caminho mais adequado para lidar com as questões apresentadas. Isso pode significar indicar outros profissionais (psicólogos, psiquiatras, mentores, consultores, etc.) para apoiar o cliente em sua busca.
A arte e ciência do Coaching vem se desenvolvendo com base nas ciências humanas, por isso sorve de várias fontes como psicologia, administração, neurociência, linguística, filosofia, entre outras. A atividade de Coaching ainda não é regulamentada e reconhecida como profissão (o que vários profissionais gostariam muito que acontecesse), por isso é fundamental que sua prática seja garantida dentro dos máximos padrões éticos e por coaches absolutamente preparados e competentes.
Ninguém se torna coach de uma hora para outra. Não basta fazer um curso de final de semana ou qualquer coisa equivalente. Ser coach significa, além de fazer uma formação consistente (pelo menos 60h), praticar muito, seja com colegas ou com clientes pro bono. Significa fazer mentoria em Coaching para receber feedbacks de profissionais experientes e passar por supervisão em Coaching para trocar com profissionais devidamente qualificados com quem possa compartilhar dificuldades e diferentes abordagens.
Em meio a essa febre de Coaching ou a esse enxame de coaches, como escolher um profissional competente? Ou como dizem, como separar o joio do trigo?
Leitor amigo, se você me permite uma dica: sempre escolha profissionais certificados por instituições independentes (aquelas que não possuem cursos de formação).
A maior delas, fundada em 1995 (24 anos) é a International Coach Federation (ICF) que tem como principal objetivo liderar o avanço global da profissão de Coaching. A ICF é uma organização global de adesão individual, sem fins lucrativos, formada por profissionais que praticam, ensinam ou pesquisam o Coaching. Ela assumiu a responsabilidade de definir e desenvolver uma filosofia de Coaching, bem como de estabelecer padrões éticos para os seus membros em todo o mundo. Isto é feito através de um rigoroso Código de Ética próprio. A instituição mantém um canal de comunicação direto com os clientes, comitedeetica@icfbrasil.org para que eles sintam-se à vontade e façam denúncias sobre praticas de Coaching não éticas.
Agir em acordo com o que rege o código de ética e estar capacitado em relação as 11 competências do coach é condição inegociável para possuir uma credencial ICF.
Coaching não é aconselhamento, não é psicoterapia ou qualquer outro tipo de terapia, não é consultoria, não é mentoria, não é processo de cura de nenhuma espécie, não é um conjunto de dicas, regras ou ideais para a vida.
Coaching se propõe ao desenvolvimento com foco nos desejos e objetivos do próprio individuo. É um processo que valoriza fortemente a autonomia de cada pessoa, por isso, um coach experiente jamais irá dizer para seu cliente o que ele deve ou não fazer ou irá aceitar trabalhar qualquer questão que não esteja relacionada com seu desejo de transformação pessoal.
Enfim, minha compreensão é de que Coaching existe para ajudar as pessoas a se apropriarem de si, sendo o máximo do que já são, evitando o gasto de tempo e energia tentando ser o que não são!
Coaching é uma atividade qualificada, por isso requer uma prática responsável. Se para isso devemos ou não ter a atividade regulamentada como profissão é uma discussão para outro artigo.
No momento, meu maior desejo é que, você coach que estiver lendo esse artigo, reflita sobre suas escolhas e não ceda aos impulsos e tentações de cursinhos rápidos e sem qualidade, e que você futuro cliente, fique alerta para fazer boas escolhas, conheça pelo menos três profissionais antes de tomar sua decisão, sempre pergunte sobre a formação do coach e pesquise. Não fique seduzido por nomes e títulos, pois o papel tudo aceita!
Carlla Zanna
Professional Certified Coach